- Escrito por Lilian Russo
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Ranking de universidades da Índia vai tirar pontos de instituições com muitas retratações de artigos
O Quadro Nacional de Classificação Institucional (Nirf), um ranking de universidades da Índia divulgado todos os anos pelo Ministério da Educação do país, vai tirar pontos de instituições cujos pesquisadores tiveram um número exagerado de artigos que sofreram retratação por má conduta, ou seja, que foram invalidados devido à ocorrência de plágio, adulteração de dados ou fraudes.
Serão contabilizados os estudos retratados nos últimos três anos, indexados nas bases de dados Scopus e Web of Science. Como será a primeira vez que a classificação vai considerar as retratações, as punições serão leves e simbólicas.
“No próximo ano, a penalidade será mais severa”, disse ao jornal The Hindu Anil Sahasrabudhe, que preside o Conselho Nacional de Acreditação, órgão responsável pelo ranking nacional. “Ao atribuir uma pontuação negativa para retratações, queremos enviar uma mensagem forte de que a pesquisa deve ser conduzida de forma ética”, afirmou. Se a incidência de retratações continuar alta nos próximos anos, o governo pretende até mesmo descredenciar faculdades e universidades.
O Nirf foi criado em 2016 e ranqueia cerca de 3,8 mil instituições de ensino superior indianas com base em indicadores que medem o seu desempenho em ensino, pesquisa, extensão e inclusão, e sucesso profissional dos jovens após a graduação, além de avaliar a percepção do setor produtivo e da comunidade científica sobre cada uma delas. A participação das universidades e faculdades no ranking é condição para que elas acessem programas nacionais de bolsas – as mais bem classificadas ganham mais autonomia para definir seus currículos.
A decisão de penalizar universidades com muitos casos de má conduta é uma resposta do governo à elevada incidência de retratações entre seus pesquisadores: na Índia, a cada mil papers publicados, dois acabam sendo retratados, um índice duas vezes maior do que o dos Estados Unidos. Há dois meses, universidades indianas ocuparam os nove primeiros lugares na lista de instituições de ensino superior do mundo com maior proporção de artigos retratados e de papers publicados em revistas descredenciadas de bases de dados por práticas anômalas (ver Pesquisa FAPESP n° 354).
A química Moumita Koley, pesquisadora do Instituto Indiano de Ciências, em Bangalore, elogiou a nova política, mas teme que seus efeitos sejam limitados. Ela disse à revista Nature que, além de mudar a classificação, o governo deveria rever incentivos que levam pesquisadores e instituições a querer publicar artigos em grande quantidade para obter promoções na carreira e financiamento público, um dos motores dos casos de má conduta, na sua avaliação.